“Hércules e Ônfale”: após explosão em Beirute, obra ressurgiu como obra-prima de Artemisia Gentileschi
- AlexPaz

- 7 de jul.
- 2 min de leitura

Uma das mais dramáticas histórias de resgate artístico dos últimos anos envolve uma obra esquecida, uma tragédia devastadora e a redescoberta de uma das maiores pintoras do barroco europeu. A monumental pintura Hércules e Ônfale, atribuída à italiana Artemisia Gentileschi, sobreviveu à explosão no porto de Beirute em 2020 e, após mais de três anos de restauração meticulosa, está agora em exibição no Getty Center, em Los Angeles.
A tragédia que quase apagou uma obra-prima
Em 4 de agosto de 2020, uma explosão de nitrato de amônio no porto de Beirute devastou grande parte da cidade, deixando mais de 200 mortos e milhares de feridos. Entre os edifícios atingidos estava o histórico Palácio Sursock, uma mansão do século XIX que abrigava uma valiosa coleção de arte pertencente à família Sursock.
Entre os tesouros danificados estava Hércules e Ônfale, uma pintura a óleo sobre tela de grandes dimensões que, até então, permanecia relativamente desconhecida do grande público. A obra foi atingida por estilhaços de vidro, coberta por detritos e sofreu rasgos profundos, incluindo um corte de cerca de 50 centímetros próximo ao joelho de Hércules.
Uma restauração de precisão cirúrgica
Logo após a tragédia, a pintura foi enviada aos Estados Unidos, onde especialistas do Getty Museum iniciaram um processo de conservação que duraria mais de três anos. O conservador-chefe Ulrich Birkmaier descreveu os danos como “os mais graves” que já enfrentou em sua carreira.
Durante o processo, os restauradores removeram camadas de repintura feitas ao longo dos séculos, revelando detalhes originais escondidos. Fragmentos da pintura que haviam se soltado foram cuidadosamente recolocados, e a estrutura da tela foi reforçada para garantir sua estabilidade a longo prazo.
A confirmação de uma autoria histórica
A explosão, ironicamente, trouxe à tona uma investigação mais profunda sobre a origem da obra. Embora houvesse suspeitas desde os anos 1990, foi somente após a restauração que a pintura foi oficialmente atribuída a Artemisia Gentileschi, uma das poucas mulheres artistas reconhecidas de seu tempo.
Datada da década de 1630, a obra representa uma cena mitológica em que Hércules, escravizado por Ônfale, é forçado a realizar tarefas tradicionalmente femininas, como fiar lã — uma inversão de papéis que ecoa o estilo ousado e feminista de Gentileschi. A artista é conhecida por retratar mulheres fortes e desafiadoras, muitas vezes inspiradas em figuras bíblicas e mitológicas.
Uma estreia pública histórica
Após ter passado por apenas três coleções particulares ao longo de quase quatro séculos, Hércules e Ônfale está sendo exibida pela primeira vez ao público na mostra “As Mulheres Fortes de Artemisia: Resgatando uma Obra-Prima”, no Getty Center.
A exposição não apenas celebra a sobrevivência da obra, mas também destaca o legado de Artemisia Gentileschi como uma das grandes mestres do barroco. Sua redescoberta e valorização nas últimas décadas têm inspirado uma nova geração de estudiosos e artistas a revisitar o papel das mulheres na história da arte.
Um símbolo de resistência e renascimento
A jornada de Hércules e Ônfale — da destruição à consagração — é um poderoso símbolo da resiliência da arte diante da tragédia. Mais do que uma restauração física, trata-se de uma reparação histórica: uma obra esquecida, de uma artista subestimada, finalmente encontra seu lugar de destaque no cenário internacional.













































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