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  • Foto do escritorJose Edmar Gomes

ERASMO CARLOS

Ele e Tim Maia queriam parar o mundo

Erasmo Carlos
Erasmo Carlos

Ele “morreu”, pela primeira vez, no último dia 30 de outubro, quando fakes espalhados na internet, davam conta do pior. Mas “ressuscitou” no Dia de Finados, quando recebeu alta do hospital Barra D’or, onde se tratava de uma tal síndrome edemigênica.


Mas a vida é muito curta para nós mesmos e para quem a gente gosta. Neste 22 de novembro de 2022, a notícia era verdadeira: o Tremendão morrera, aos 81 anos, logo depois de receber um telefonema de seu amigo Roberto Carlos.


Foi exatamente com seu “amigo de fé, irmão camarada”, cuja amizade nascera no comecinho dos anos 60, na Tijuca-RJ, que ele construiu o patrimônio mais sólido da música brasileira, como compositor e intérprete. Patrimônio este que moldou (ou transformou) o comportamento de algumas gerações.


As canções da Jovem Guarda, movimento fundado pelo dois e ainda Wanderleia, que assimilaram a liberalidade do rock, ainda hoje estão na trilha sonora de nossas vidas e não vão nos deixar tão cedo. A jovem Guarda virou programa de TV e fazia as delícias da nascente mídia de então.


Foi com este patrimônio que Erasmo conquistou o último prêmio em vida: O Grammy Latino de 2022, com o álbum O Futuro pertence à ... Jovem Guarda, onde ele rearranja os sucessos do movimento.


São composições suas com Roberto, Meu grito (1968), que lançou Agnaldo Timóteo para a fama, e Sentado à beira do caminho (1969), que fez o próprio Erasmo conhecido em todo o mundo. E mais centenas de canções, como Emoções (1981), que a gente conhece muito bem.


Erasmo e Roberto, seduzidos pelo novo e fascinante universo do rock, falavam de carrões, festas de arromba e caras maus, no começo da carreira. O primeiro grande sucesso do Tremendão foi justamente Minha fama de mau (1964), que virou livro e filme de grande bilheteria.


O LP Você me acende, de 1966, traz o DNA musical de Erasmo, nas baladas romântico-roqueiras, como A carta, maior sucesso do disco, e a sensacional Gatinha Manhosa, além de O Carango e mais nove faixas, boa parte delas versões, muito apreciadas, até hoje.

A Carta, no entanto, não foi composta por ele, nem por Roberto, mas por Raul Sampaio e Benil Santos, mas foi feita especialmente para sua voz. Tanto é assim que é o Tremendão quem subscreve a missiva.

A Carta, uma balada para o primeiro amor, foi regravada em 1992, em dueto com Renato Russo, no Álbum Homem de Rua e, em 2003, viria constar do CD Presente, segundo álbum póstumo de Renato Russo.

Erasmo, segundo ele mesmo, gostava mais de compor do que de interpretar. Ele gostava mesmo de escrever, e escrevia bem. Começou escrevendo a coluna O mundo é dos brotos, na Revista do Rádio, na ausência do titular, Carlos Imperial, a quem também substituía ao microfone da Rádio Guanabara, no programa Os brotos comandam.


Os versos de Sentado à beira do caminho (Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada/Sou um pobre resto de esperança na beira de uma estrada) mostram uma pena segura e uma alma sensível, que só viriam crescer ao longo do tempo.


São justamente esta alma sensível e esta pena segura que engrandecem o livro Minha Fama de Mau, sua autobiografia, que conta peripécias de criança, adolescência e sua vida de play boy, com a turma da Tijuca. Foi lá que tudo começou com Tim Maia; Roberto; Carlos Imperial; Simonal e os grupos The Sputiniks, Snakes e Renato e Seus Blues Caps.


No livro, está a trajetória do menino pobre, criado só pela mãe, que virou um dos maiores popstars do Brasil, além de relatos de como a dupla produziu seus maiores sucessos.


Pequenas e grandes vivências do cotidiano viram relatos saborosos, que traduzem frustrações, rebeldias e conquistas, em lições, permeadas de amor.

No último texto do livro, Volta ao redor do (meu) mundo, Erasmo relata:

“Ri muito nesses anos todos. Chorei muito também. E, a cada lágrima ou sorriso, a cada vaia ou aplauso, a cada fracasso ou sucesso, a cada ataque do inimigo ou afago do amigo, aprendi que o mundo gira, num eterno movimento.


“E é grande a lição que estudamos desde que nascemos, em todos os pequenos e grandes movimentos de nossa existência. Mas aprender com um professor como Tim Maia é sempre melhor – ou no mínimo, mais divertido

(...)

“Tim cismou com uma teoria antiga de sua autoria. Segundo ele, era permitido a qualquer um percorrer grandes distâncias sem sair do lugar.


“-- É só ficar pulando que a Terra vai passando – explicou com ar de Eistein.


“ -- Como assim? – perguntei.


“-- A cada pulo que você dá, a Terra anda um pouquinho. É o movimento de rotação dela. Se você der uma porrada de pulos, vai percorrer uma distância mínima – respondeu ele.

(...)

“Não conseguimos provar nada. Apenas que seria bom, muito bom, se, às vezes, o mundo parasse.”

Mas o mundo não para, Erasmo. Não parou para Tim, não parou para Timóteo, não parou para Gal, não parou para Pablo, não parou para você, não vai parar para Roberto, nem para mim, nem para ninguém. Infelizmente.

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