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Pablo Linde

A droga do riso que não causa graça na Europa


A droga do riso - Artise

Nos arredores de certos festivais de música, não é incomum ver um rastro de balões coloridos vazios e cartuchos metálicos. Testemunham uma festa de riso e tontura, de exaltação rápida e fugaz, de droga barata e legal. São os restos que deixam para trás os consumidores de óxido nitroso, uma substância usada em farmácia e confeitaria cujo uso recreativo começa a ser proibido em alguns países da Europa.

É o gás do riso, um fluido cujas propriedades analgésicas e hilariantes foram descobertas no século XIX pelo dentista Horacio Wells. Ele observou como, após seu consumo, um indivíduo sofria um ataque de riso e um traumatismo grave sem mostrar sinais de dor. Naquele momento, a substância começou a seguir dois caminhos: como anestésico em clínicas odontológicas —e coadjuvante para alguns medicamentos— e como psicotrópico em contextos lúdicos.


Como droga recreativa, é a sétima mais usada do mundo, segundo a Global Drug Survey, uma pesquisa global feita anualmente por meio da Internet com dezenas de milhares de consumidores. Embora seja muito mais segura do que outras, seu consumo começa a causar preocupação nos países em que faz mais sucesso: Alemanha, Reino Unido e Holanda. O Governo holandês anunciou no início de dezembro que proibirá seu uso recreativo e vai incluí-la em sua lista de substâncias ilegais. Neste mesmo mês, o Senado francês aprovou um projeto de lei para proibir sua venda para menores, diante do alarme provocado por alguns casos de distúrbios neurológicos após sua inalação.


Na Espanha, é uma substância legal, cujos cartuchos podem ser comprados por menos de um euro (4,52 reais). Embora a polícia confisque pequenas quantidades de vez em quando, já que sua venda para consumo humano é considerada um crime contra a saúde pública, seu uso é insignificante. Entre os usuários habituais de substâncias psicoativas no país que participam da Global Drug Survey (o questionário pode ser respondido online), seu consumo foi de 2,5% e de 4% em 2017 e 2018, respectivamente. Nos últimos cinco anos, o Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha recebeu apenas nove telefonemas relacionados com essa droga.


David Pere Martínez Oró, da Unidade de Políticas de Drogas da Universidade Autônoma de Barcelona, explica que na Espanha o óxido nitroso é consumido basicamente em festivais e em áreas turísticas (como as ilhas Baleares e a Costa do Sol), e quase sempre por estrangeiros. “Os festeiros espanhóis preferem outras drogas que têm outros efeitos, principalmente o ecstasy e, e em menor medida, a cocaína. O óxido nitroso dá alguns segundos de empolgação e risos, não gera a empatia de que tanto gostam os espanhóis, para quem o componente grupal da euforia é muito diferente em relação ao norte da Europa”, reflete o pesquisador.


“[O uso na Espanha] é muito residual e não tem riscos excessivos para a saúde, por isso nem é incluído nas pesquisas oficiais”, explica Fernando Caudevilla, do Grupo de Intervenção em Drogas da Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunitária. “Quando um estupefaciente faz sucesso, é porque seus efeitos são agradáveis. No caso do gás do riso, provar de vez em quando pode ter alguma graça, mas não tem potencial para abuso, porque na terceira inalada sua cabeça dói muito e você para. E, por suas características farmacológicas, também não gera muito vício”, acrescenta.

E por que o óxido nitroso é proibido em outros países? Porque, apesar de ser mais seguro do que outras substâncias, não há droga inofensiva. O Ministério da Saúda da Espanha explica que, como seu uso causa uma alteração do limiar da dor, do grau de alerta e consciência, pode aumentar acentuadamente o risco de lesões ou acidentes. Seu consumo está associado a alucinações, confusão, entorpecimento persistente e lesões. Além disso, o gás tem efeitos adversos significativos quando administrado por longos períodos ou repetidamente, afetando principalmente o metabolismo da vitamina B12 e do ácido fólico. Em casos extremos, pode levar à morte, se for consumido em enormes quantidades que provoquem asfixia, embora isso ocorra muito raramente.


Celia Prat, chefa de uma equipe de treinamento da Fundação de Ajuda contra a Dependência de Drogas, acredita que sua incidência na Espanha não exige medidas adicionais. “Precisamos estar atentos à sua evolução, porque seu custo reduzido e sua disponibilidade fazem com que seja potencialmente fácil consumi-la”, assinala.


Em um contexto em que os jovens “rejeitam cada vez mais as drogas”, nas palavras de Martínez Oró, o óxido nitroso tem a vantagem de ser “limpo e não estar submetido ao mercado ilegal”. Devido a isso, explica o pesquisador, poderia ocorrer um aumento do consumo, mas ele considera que o “medo visceral” das drogas que existe desde os anos 1980 na Espanha deixa pouco espaço para seu crescimento.


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